Em 2016, 02 de setembro, celebramos o Sri Vyasa Puja Mahotsava, o festival em honra ao auspicioso aparecimento de Sri Srimad Goura Govinda Swami Maharaja. Apresentamos a seguir uma palestra falada por Srila Goura Govinda Swami, em julho de 1992, na Inglaterra, que discorre belamente sobre os nobres ensinamentos dados por Sri Krsna a Arjuna após a batalha de Kuruksetra.
Krsna Esmaga o Orgulho de Seus Devotos
Na batalha (yudha) de Kuruksetra, Krsna era o partha-sarathi, o quadrigário de Arjuna. Quando a yudha de Kuruksetra terminou, Arjuna se tornou vitorioso. Todos os Pandavas conquistaram a vitória. No início do Bhagavad-gita, você encontra no primeiro capítulo como Arjuna está se colocando no papel de um grande sábio. Então, isso é explicado no segundo capítulo, quando Ele diz que:
karpanya-dasopahata-svabhavah
prcchami tvam dharma-sammudha-cetah
yac chreyah syan niscitam bruhi tan me
sisyas te ham sadhi mam tvam prapannam
(Bhagavad-gita 2.7)
“Eu me tornei seu sisya. Eu aceito você como Guru. Eu me rendo agora aos Seus pés de lótus. Por favor, dê-me disciplina. Purifique-me, e então, transmita-me conhecimento, tattva jnana. Eu estou confuso. O que é para ser feito? O que eu devo ou não fazer? Eu não sou capaz de pensar sobre isso. Eu sou um krpana, eu não sou um brahmana.”
Dessa forma, Krsna desempenhou o papel de Guru, e Arjuna desempenhou o papel de sisya (discípulo). Então, o que ele disse?
sri bhagavan uvaca
asocyan anvasocas tvam prajna-vadams ca bhasase
gatasun agatasums ca nanusocanti panditah
(Bhagavad-gita 2.11)
“Seu tolo número um! Está se colocando como um grande erudito! Você é o tolo número um! Os panditas nunca se lamentam dessa forma, mas você está se lamentando e pensando em si mesmo.”
Este foi o seu castigo.
A batalha de Kuruksetra havia terminado, e nessa ocasião, Arjuna e Krsna estavam sentados sobre a carruagem e discutiam tópicos às margens do Yamuna, onde há muitos bosques com belas flores. Eles conversavam e discutiam sobre alguns tópicos. Arjuna tinha desenvolvido algum tipo de orgulho, ele pensava que era um jnani-bhakta. Você compreende a minha linguagem quando digo jnani- bhakta? Ele desenvolveu tal orgulho.
Krsna sabe tudo. Quem está em seu coração, como Paramatma? Ele sabe o que se passa em seu coração, você não pode enganar Krsna. Portanto, Krsna pôde compreender que Arjuna possuía esse orgulho. E tal maravilhosa lila se manifestou!
A carruagem em que estavam movia-se lentamente. Muitos tópicos estavam sendo discutidos dessa forma, e nesse meio tempo eles viram um jambuka (um animal chamado chacal) que estava circulando o corpo morto de um ser humano. Ele cheirava o corpo e se movia em volta dele. Cheirava suas mãos, pernas, cabeça, barriga, ouvidos e nariz, todas as partes, movendo-se em volta do defunto. Então, Arjuna disse: “Esse jambuka é um tolo, não tem nenhum conhecimento.”
Isso ocorreu porque Arjuna desenvolveu algum orgulho: “Eu sou um jnani- bhakta. Ele apenas sabe circular e cheirar esse corpo.” Arjuna sorriu, e disse: “Se fossem dois grandes cachorrões, ele correria para bem longe imediatamente! Ele ficaria com medo e fugiria. Ele é tão tolo, e não tem nenhum conhecimento, apenas sabe cheirar, cheirar.”
Essa é a maravilhosa lila de Krsna! Assim, Krsna chamou o jambuka: “Eh jambuka, por favor, venha aqui.” Ele se aproximou e se prostrou aos pés de lótus de Krsna. Esse jambuka era um grande jnani, um grande bhakta. Então ele se prostrou e sentou-se. Krsna inquiriu: “Tudo bem, jambuka, esse corpo morto é seu alimento, sua comida… Então por que você não está comendo, mas apenas cheirando e circulando-o?” Então, o jambuka respondeu: “Oh meu Senhor você sabe de tudo. Você é o conhecedor de todas as coisas. O que eu posso dizer? Embora este seja o meu alimento, eu nunca como sem considerar alguns tópicos. Sem discernimento, sem vicara, eu nunca me alimento”. Então Krsna perguntou: “Qual é o seu vicara? Que vicara é esse? O que você está considerando para se alimentar?”
Então ele disse: “Oh Senhor, eu pondero se essa pessoa nessa vida utilizou suas pernas para circungirar o dhama. Você compreende ? Questiono: ele já foi a Jagannatha Puri-dhama caminhando a pé? E, ele já fez algum serviço para Krsna com suas mãos? Já ofereceu algum puja para Krsna? Ele já viu algum sadhu, algum Vaisnava, um querido devoto Seu, ou Sua deidade adorável com estes olhos? Ele já se prostrou aos pés de lótus de sadhus, Vaisnavas, com sua cabeça? Essas são as minhas considerações.”
“Por cheirar, posso saber. Embora seja um animal, pasu, eu não tenho nenhum conhecimento, nada, mas eu ainda tenho esse cuidado. Por cheirar eu posso saber essas coisas. Do contrário, eu não posso comer essa carne, pois isso é apavitra, impuro. Eu nunca me alimento disso. Se algum de seus membros desempenhou algum serviço a Krsna e a Seus queridos devotos, então eu como apenas aquele membro. Por isso eu estou cheirando, e por cheirar eu posso saber. Este é o jambuka vyakhyana. Nós somos pasus, animais. Nós não sabemos o que é dharma. Eu não tenho direito de fazer qualquer tipo de dharma. Ainda assim, através do ato de comer, nós adquirimos isto. Por tal razão eu estou considerando dessa maneira.”
Então, Krsna disse ao jambuka: “Muito obrigado! Você é um grande jnani, um sábio! Uma pessoa erudita, um grande devoto. Você é meu devoto tão querido!”
Arjuna estava ouvindo tudo isso. Então, o orgulho dele foi esmagado. Ele disse: “Oh!” E ficou estupefacto. “Dhanya, dhanya!”ou “Bravo, todas as glórias! Jambuka, você é tal grande jnani! Tal pessoa erudita, tão sábia. Eu não tenho tal sabedoria.” Veja, o orgulho de Arjuna foi massacrado! Mas nós estamos pensando: “Eu sou um jnani, um grande devoto! Eu sou uma grande alma, um devoto querido, tão sábio, inteligente, um verdadeiro jnani- bhakta.” Krsna ensina dessa forma, e esmaga o orgulho dos devotos.
Portanto, o ensinamento de Mahaprabhu é:
trnad api sunicena
taror iva sahisnuna
amanina mana-dena
kirtaniyah sada harih
(Siksastaka verso 3)
“Deve-se cantar o Santo Nome do Senhor em um humor de plena humildade, pensando ser inferior à folha de grama caída na rua; ser mais tolerante que uma árvore, que tudo concede; ser desprovido de todo senso de falso prestígio, e estar pronto a oferecer todo respeito aos outros, sem esperar nenhuma honra. Em tal condição da mente, pode-se cantar o Santo Nome do Senhor constantemente “. [Sri Sri Siksastaka verso 3]
Esse é o nosso ensinamento. Você deve compreender isso. Se alguém verdadeiramente desenvolve esse humor de rendição plena ao santo nome e cantar, se o seu cantar for puro, sem ofensas, então tal pessoa conquistará Krsna. Se você desenvolve o estágio de namabhasa (sombra do santo nome), todo o seu prarabdha-karma( karma do passado) é destruído. Não existirá nenhum sofrimento oriundo do prarabdha-karma, tudo será eliminado. Então, onde estará seu sofrimento? Não existirá mais sofrimento. E quando o seu cantar for puro, você obterá Krsna. O nome puro é o próprio Krsna. Isso é Krsna-prema (amor divino). Nesse momento, você sentirá toda bem-aventurança, toda felicidade transcendental! Paramananda-maya, você obterá o estado de sac-cit-ananda maya e sentirá felicidade transcendental constantemente.
Haridasa Thakura apanhou de tais pasandis. A carne e os ossos saíram de seu corpo. Mas ele estava feliz cantando hare krsna. Ele nunca sentia qualquer dor. Ele não amaldiçoou-os, mas ofereceu preces a Krsna: “Por favor, perdoe-os!” Ele tolerou. Isso significa tolerância.
O bhakta, Vaisnava, aparentemente, ou externamente sente algum sofrimento, mas de fato, um Vaisnava nunca sente qualquer dor. O sadhu nunca sente nenhuma dor, como uma pessoa que sofre pelo seu karma prévio e que sente tanta dor e sofrimento. Este chora um choro doloroso. Um Vaisnava nunca age assim. Todos os seus sofrimentos são o mais elevado estágio da felicidade.
more yadi diya duhkha tanra hoila vi-sukha sei duhkha- mora sukha varya
“Colocando-me em tal sofrimento, se Krsna obtém ananda, felicidade, então esse sofrimento é o meu mais elevado prazer, o prazer máximo.” Esse é o humor do Vaisnava.
yata dekha vaisnavera vyavahara duhkha niscaya janiha taha paramanada-sukha
(Caitanya Bhagavata- Vrindavana Dasa Thakura)
Portanto, é dito: paramanada é suprema ananda, felicidade, e sukha, prazer. Mas, aparentemente, externamente, eles sofrem. Haridasa Thakura apanhou sem nenhuma misericórdia, mas tinha paramanada-sukha. Certo kusthi, Vasudeva Vipra, tinha kustha-roga, ou lepra. Sua carne estava caindo de seu corpo, contendo germes e krmis, vermes. Eles estavam se alimentando de sua carne. Ao se dar conta disso, ele disse: “Oh, os krmis,vermes, estavam se alimentando. Por que será que eles caíram? Tudo bem, vocês podem permanecer e continuar comendo, não tem problema.”
O que significa isso? Ele nunca sente qualquer dor, tal grande devoto! No Sul da India, enquanto Mahaprabhu estava visitando o Kurma Mandir, Mahaprabhu o abraçou, e então seu corpo transformou-se, vindo a ficar sem lepra. Ele estava curado! Obteve um belíssimo corpo como de um Vidyadhara, o corpo de um semideus celestial. Então, ele disse: “Oh Mahaprabhu, por que você fez isso? Esse corpo é tão belo. Agora, eu ficarei inflado, orgulhoso por ter tal lindo corpo. Dessa forma, eu não serei capaz de fazer bhajana para você. Por favor, por favor, por favor, não me conceda tal corpo. Assim eu não poderei me tornar um dina, uma pessoa humilde!” Mahaprabhu disse: ” Não, não, não. Você irá se tornar um dina. Isso nunca afetará você.” Esse era o desejo de Mahaprabhu.
Dessa forma, alguém que é um bhakta de verdade, que é realmente rendido ao santo nome, tem esse humor:
Trnad api sunicena
taror iva sahisnuna
amanina mana-dena
kirtaniyah sada harih
(Siksastaka verso 3)
Ele está fazendo um belo bhajana, um bhajana puro. Ele não tem nenhum sofrimento. Tudo isso é apenas externo. Mas internamente ele é muitíssimo feliz, transcendentalmente bem- aventurado! O mitra (amigo) de Krsna, Sudama Vipra, ele era tão pobre que não podia alimentar suas crianças. Mas cantava em grande bem-aventurança, tão feliz ele era! Kholaveca Sridhara, que vendia folhas e flores de bananeira no mercado de Nadia, certa vez recebeu a visita de Nimai (Mahaprabhu), que desatou a colocar a mão na cesta e roubar suas flores! Sridhara segurava sua mão, eles estavam brincando! Ele era tão pobre, e não podia nem mesmo empalhar sua casa, tapar os buracos que existiam. Durante o verão havia um calor escaldante. Durante o inverno, torrentes de chuva caíam dentro de sua casa. Ele era tão pobre, mas ainda assim um grande devoto! Querido devoto! Mahaprabhu ofereceu a ele opulência, mas ele disse: “Não, o que eu farei com isso?? Não, não, não, não. Meu pedido é: apenas desejo que Nimai venha até mim e coloque sua mão na minha cestinha para que eu brinque com Ele! Esse é meu único desejo, nada mais.”
Então reflita, o que é felicidade, o que é sofrimento? Os devotos do Senhor estão completamente absortos, constantemente imersos em sevananda, krsna-sevananda- bem-aventurança divina originada do transcendental, serviço amoroso a Sri Krsna! Assim, eles são completamente esquecidos de si mesmos, e de suas próprias existências.