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Ratha-Yatra: O Festival das Carruagens do Senhor Jagannatha

Dandavat Pranamas! No dia 23 de junho de 2020 é o dia da celebração do Ratha-yātrā, o Festival das Carruagens do Senhor Jagannatha, que ocorre em Jagannatha Puri, na Índia. A seguir, um trecho de um bhāva anuvāda (comentários) de um encontro com perguntas e respostas de devotos com Srila Bhakti Vijñāna Bhāratī Gosvāmī Mahārāja, que ocorreu no dia 06 de julho de 2016 sobre o significado de Ratha-yātrā.

Nota dos editores: texto adicional foi incluído entre colchetes para facilitar o fluxo de conteúdo.

Ratha-Yatra, o Festival das Carruagens do Senhor Jagannatha em Puri, na Índia

Ratha-yātrā Perguntas e Respostas:

Devoto: Com que humor os Gauḍīya Vaiṣṇavas vêm para o Ratha-yātrā?

Śrīla Mahārāja: O serviço é de dois tipos: um é baseado em nīti ou maryādā (regras) e o outro é baseado em prīti ou bhāva (afeição) [Nota 1]. Os Gauḍīya Vaiṣṇavas vêm para Jagannātha Purī para o Ratha-yātrā para levar Śrī Kṛṣṇa para Vrindavana (kṛṣṇa laña vraje yāi e-bhāva antara – completa absorção interna no sentimento “estou levando Kṛṣṇa para Vraja”).

Senhor Jagannatha

Essa é a consideração de bhāva-rājya (a morada onde reina os vários humores espirituais). Neste contexto, no Srimad-Bhagavatam foi mencionado que Sri Kṛṣṇa foi para Kurukṣetra sob o pretexto de banhar-se no local sagrado Brahma-sarovara durante o eclipse solar. No entanto, isso foi apenas uma razão externa. O motivo interno era se encontrar com as vraja-gopīs (as vaqueiras de Vrindavana). E as vraja-gopis também foram para Kurukṣetra sob o mesmo pretexto, mas a intenção real dessas donzelas era encontrarem-se com Śrī Kṛṣṇa. Depois de banhar-se no Brahma-sarovara, Śrī Kṛṣṇa inventou uma desculpa para adoecer. Em tal condição, Ele não se encontraria com ninguém e nesse momento, as vraja-gopis o serviam, enquanto todos os outros retornavam. Este é o humor dos Gauḍīya Vaiṣṇavas.

Por outro lado, em maryādā-mārga (o caminho baseado em regras e regulações), o Senhor Jagannātha adoece após o Snāna-yātrā e Ele é servido pelos Dayitas durante esse tempo. Os pañās não o servem durante este período.

Por conta de sua doença, não é oferecido anna-bhoga a Jagannātha (arroz, sabji e assim por diante) durante este período. Ele ingere diariamente remédios digestivos. Depois disso, enquanto ainda não está plenamente recuperado, eles chamam um médico sênior (vaidya) que então o massageia e lhe recomenda uma dieta (pathya), que pode ser de puḍī, paneer e assim por diante. Quando Ele começa a se recuperar, lhe é oferecido khicaḍī pela manhã e bhoga (alimentos gerais) regularmente à noite. Este procedimento é seguido no templo de Jagannātha.

POR QUE TRÊS CARRUAGENS SEPARADAS?

De acordo com a consideração de prīti-mārga , as vraja-gopīs estão levando Śrī Kṛṣṇa para Vṛndāvana. Portanto, há três carros separados para Śrī Baladeva, Subhadrā-devī e Jagannātha. Caso contrário, isso resultará em rasa viparyaya (contradição). Você entende rasa viparyaya?

Devoto: Rasābhāsa

Śrīla Mahārāja: Não é rasābhāsa, viparyāya.

Devoto: Viparita?

Śrīla Mahārāja: Sim. Como as vraja-gopis não se encontrarão com Kṛṣṇa na presença de Baladeva, este viaja separadamente. O mesmo princípio se aplica no caso de Subhadrā-devī. Baladeva lidera o caminho e é seguido por Subhadrā-devī. No raga-mārga (o caminho do amor espontâneo), se elas estiverem na presença de Baladeva e Subhadrā, então isso resultará em rasa viparyāya. É por isso que Jagannātha é levado por último.

Conforme o caminho dos princípios regulativos (vidhi-mārga), Śrī Baladeva é guru-tattva (origem de todos os mestres espirituais). Subhadrā-devī seguirá Śrī Baladeva, pois ela é a personificação de Bhakti-devī. Assim, pela misericórdia do guru, bhakti (devoção) se manifestará e, como resultado, podemos alcançar Bhagavān Krishna.

PORQUE JAGANNATHA BALANÇA PARA OS LADOS

Durante a cerimônia Pāṇḍu-vijaya (enquanto Jagannātha está sendo levado para sua carruagem um pouco antes do Ratha-yātrā), observa-se que Jagannātha balança de um lado para o outro, no entanto, isso não ocorre no caso do Senhor Balarama e Subhadrā. Isto é porque Jagannātha quer se encontrar com todos os devotos, então Ele se volta para todos. Ele não quer desagradar ninguém. Assim, Ele demora mais para chegar na carruagem. Com esse humor, Ele é levado à Sua carruagem.

GAUḌĪYA VAIṢṆAVAS NÃO VÊM AO RATHA-YĀTRA PARA ESCAPAR DO RENASCIMENTO

Assim, neste estado de espírito, os Gauḍīya Vaiṣṇavas vêm ao festival, mas eles não vêm com o pensamento de que “tendo darśana de Jagannātha no Ratha Yatra, não teremos que renascer”. Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura teme outro nascimento? Ele diz – “kīṭa-janma hau jathā tuwā dāsa” (que eu possa nascer como um verme, desde que eu permaneça Seu devoto). Se Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura está orando para nascer como um verme, por qual razão ele temerá o renascimento? Então, Gauḍīya Vaiṣṇavas não vêm para isso. E quando o Ratha Yatra retornar, os Gauḍīya Vaiṣṇavas não participarão dessa parte do festival porque para eles, Śrī Kṛṣṇa está sendo levado de Vrindavana (morada do amor e afeição) de volta para Dvārakā (morada do temor e reverência)

OBSERVÂNCIA DO RATHA-YĀTRA SOMENTE SOB A GUIA DE SĀDHUS

Durante o Ratha-yātrā, Śrī Caitanya Mahāprabhu e Seus muitos associados eternos dançavam em frente à carruagem de Śrī Jagannātha-deva. Eles nunca pensavam em si mesmos: “Tenho que puxar o carro” ou “Tenho que tocar a corda” ou “Tenho que gritar: ‘Jaya Jagannātha!’, assim como todo mundo está fazendo.”

Hoje em dia, aqueles que frequentam o Ratha-yātrā trazem consigo muitas emoções e sentimentos. Eles dizem coisas como: “Eu puxei a carruagem por um minuto inteiro” ou “Eu pude ver Jagannātha bem de perto”. Na realidade, atos como puxar a corda da carruagem nunca transformarão o coração daqueles que são sinceros em suas tentativas de seguir o caminho de Bhakti, mesmo que pudessem de alguma forma manter o controle sobre ela por milhares de vidas. É verdade que esse tipo de atividade pode produzir algum tipo de sukṛti (méritos piedosos) para pessoas comuns, mas para sādhakas sérios, atividades sentimentais dessa natureza não produzem resultados práticos. Tais gestos vazios foram completamente rejeitados por Śrīmān Mahāprabhu e Seus associados, que observaram o Ratha-yātrā de Śrī Jagannātha-deva com um único humor: “kṛṣṇa laña vraje yāi e-bhāva antara” – completa absorção interna no sentimento: “estou levando Kṛṣṇa para Vraja”.

A menos que durante nossa observância do Ratha-yātrā nos encontremos com sadhus, ouçamos deles e permaneçamos sob sua orientação, não teremos nenhum benefício por participar deste festival; seremos incapazes de compreender seus significados e verdades profundas.

MAHĀPRABHU ESTABELECEU AMBOS OS HUMORES – VIDHI E RĀGA

Existem dois associados de Mahāprabhu – Srīvāsa Paṇḍita e Svarūpa Dāmodara. Mahāprabhu instigou um debate entre Śrīvāsa Paṇḍita e Svarūpa Dāmodara para delinear claramente a diferença entre os dois humores do serviço devocional. Assim, Śrīvāsa Paṇḍita, que exibia um humor opulento (maryādā-bhāva) de adoração, glorificou o humor de Lakṣmī (deusa da fortuna) dizendo: “Veja quão opulenta é a nossa Lakṣmī-devī. E Svarūpa Dāmodara respondeu elucidando a supremacia do humor das vraja-gopīs (vaqueiras de Vrindavana). Por intermédio de Svarūpa Dāmodara e Śrīvāsa Paṇḍita, Ele deu o ensinamento. Svarūpa Dāmodara é um Vraja-vāsī e Śrīvāsa Paṇḍita é um Purī-vāsī.

Svarūpa Dāmodara disse a Srivāsa Paṇḍita: “Você nem mesmo entende o humor de Vrindavana.” Aqueles que se identificam como Gauḍīya Vaiṣṇavas, e possuem o abhimāna que eles são Gauḍīya Vaiṣṇavas, não aceitarão o darśan (contemplação) do caminho de volta de Jaganatha para Dvaraka,  o que dizer de puxar/ tocar a corda. A razão disso é que os Gauḍīya Vaiṣṇavas só se esforçam para levar o Senhor até Vrindāvana, pois são atraídos pelo humor dos Vrajavasis (habitantes de Vrindavana). Não é possível compreender tudo isso por nossos próprios esforços, somente quando seguirmos os prāyā bhaktas (devotos unidirecionais) e nos abrigarmos neles, então poderemos compreender esse humor.

QUEM É QUALIFICADO PARA ENTENDER O VERDADEIRO HUMOR DO RATHA-YĀTRĀ

Nós vimos tais humores no período em que não havia nenhum governo encarregado dos procedimentos do Ratha-yātrā. Eles assumiram o comando em 1973. Antes disso, durante o Ratha-yātrā, a administração do festival (que era por parte do rei) costumava organizar uma área especial em frente aos carros, onde os devotos podiam fazer kīrtana sem qualquer perturbação, pessoas comuns não eram autorizadas a entrar lá. Certa vez, enquanto os devotos da Gauḍīya Maṭha estavam realizando kīrtana naquela área sob a orientação de meu Guru Mahārāja, os servos ou paṇḍās do Senhor Jagannātha ficaram tão extasiados ao ouvir o kīrtana que ergueram Guru Mahārāja sobre seus ombros e o levaram à força até a carruagem do Senhor.

Enquanto isso, absortos no humor saboreado pelas vraja-gopīs quando se encontram com Śrī Kṛṣṇa em Kurukṣetra, Śrīla Purī Gosvāmī Mahārāja estava dançando e cantando a seguinte canção na frente da carruagem:

sei tô ‘parāṇa-nātha pāinu
madāhā lāgi ‘madana-dahane jhuri’ genu
(Śrī Caitanya-caritāmṛta Madhya-līlā, 13.113)

Agora, conquistei o Senhor da Minha vida. Em sua ausência, estava sendo queimado pelo cupido e definhando.

Enquanto Śrīla Purī Gosvāmī Mahārāja estava totalmente absorto em cantar este kīrtana, todos os devotos à sua volta também ficaram imersos no mesmo clima de encontro e estavam se sentindo jubilosos. Um batedor de carteiras usou esta oportunidade para roubar a carteira de Śrīla Puri Gosvāmī Mahārāja da sua bolsa. Já que a maioria dos devotos estava absorta no kīrtana, ninguém notou, exceto um dos meus irmãos espirituais, Śrī Nārāyaṇa Brahmacārī (mais tarde conhecido como Śrī Bhakti Prasāda Purī Mahārāja), que correu para frente e pegou o batedor de carteiras.

Enquanto restringia o ladrão, Śrī Nārāyaṇa Brahmacārī tentou desesperadamente chamar a atenção de Śrīla Purī Gosvāmī Mahārāja, mas Śrīla Mahārāja estava tão absorto em kīrtana que ele não prestou nenhuma atenção em suas palavras. Quando Śrī Nārāyaṇa Brahmacārī tentou mais insistentemente, Śrīla Mahārāja de repente ficou muito aborrecido e o repreendeu: “Por que você está me perturbando? Deixe ele pegar o dinheiro. O dinheiro vai e vem, mas o clima que estamos experimentando neste momento pode não vir novamente”.

Quando Śrī Bhakti Pramoda Puri Gosvami Mahārāja leu o passatempo de Kśīra-corā-gopīnātha no templo em Remunā, ele ficou inconsciente de tudo ao seu redor. Ele experimentou o fogo da separação devido ao humor manifestado em seu coração. Assim, somente aqueles em cujos corações o intenso fogo da separação do Senhor se manifestou, compreenderão o verdadeiro humor do Ratha-yātrā.

O RETORNO DO RATHA-YĀTRĀ

Devoto: Não deveríamos participar da volta do Ratha-yātrā?

Śrīla Mahārāja: Eu não estou dizendo que não devemos participar. Eu estou dizendo que não é o nosso humor. Mas, se você for ver, nós (como sādhakas praticantes) na verdade não temos nenhum tipo de humor. Ou será que temos? Nós estamos praticando. Depois de muita prática, quando nos estabelecermos em um humor, então vamos compreender.

Devoto: Nós lemos nas escrituras que Śrīmān Mahāprabhu costumava cantar kīrtanas durante o retorno do Ratha-yātrā também.

Śrīla Mahārāja: Sim, Ele fez. Isso porque Ele estabeleceu ambos os humores − serviço devocional regulado (vidhi-mārga) e serviço devocional espontâneo (raga-mārga), para atender às várias categorias de devotos.

vidhi-mārga rata jane svadhinata ratna dane
rāga-mārge karana pravesa

Kṛṣṇa eventualmente concede a joia da independência àquelas pessoas que estão ligadas ao caminho das regras e restrições, permitindo-lhes entrar no caminho do serviço amoroso espontâneo.
(Canção – Heuno He Rasika Jana por Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura)

Primeiro, pratica-se o vidhi-mārga e só então ele pode prosseguir para o raga-mārga.

Devoto: Mahāprabhu fez isso (participou do retorno do Ratha-yātrā) para estabelecer o caminho do serviço devocional regulado (maryādā-mārga)?

Śrīla Mahārāja: Sim, Ele mostrou e deu ensinamentos sobre ambos os caminhos. Durante o retorno do Ratha-yātrā, Mahāprabhu participou da procissão, cantou e dançou. Śrī Caitanya Mahāprabhu cantou com grande prazer para encorajar devotos como Śrīvāsa Paṇḍita que estavam no humor de aiśvarya.

Nota final 1: do artigo “Oḍana-Ṣaṣṭhī”
(https://www.visuddhacaitanyavani.com/…/2…/11/24/Odana-Sasthi)
O serviço é de dois tipos − um é baseado em nīti (regras) e o outro é baseado em prīti (afeição). Certa vez, em nossa maṭha (templo), oferecemos roupas de inverno para Jagannātha, Baladeva e Subhadrā antes de Oḍana-ṣaṣṭhī. Um cavalheiro perguntou: “Por que você ofereceu roupas de inverno antes do verdadeiro tithi de Oḍana-ṣaṣṭhī?” Perguntei: “Por que você está vestindo um casaco quente hoje? Porque o tempo está frio, não é? Nosso serviço é baseado no amor e seu serviço é baseado em regras. Então, se o tempo ficar frio, oferecemos roupas de inverno para as nossas Deidades. ”Hoje li que em Punjab a temperatura chegou a 4-5 graus. Como podemos não oferecer roupas de inverno para as Deidades lá? Essa perspectiva de serviço é chamada ātma-vat sevā. Se estou com frio, o Senhor também deve estar com frio.

Considere, por exemplo: um funcionário que trabalha em um depósito de trigo do governo chega dez minutos antes de seu horário oficial (10h às 17h) e, apesar de perceber a chuva, ele não protege o trigo de ficar encharcado de chuva. O que ele é supostamente pago para isso. Sua mentalidade é: “Ainda não são 10 da manhã. Meu trabalho ainda não começou, então as autoridades não podem me culpar.” Tecnicamente falando, ele está certo. No entanto, em apenas dois minutos, ele poderia ter coberto todo o estoque de trigo para protegê-lo de ficar molhado, mas ele escolhe não fazê-lo, porque seu serviço é baseado em regras.

Por outro lado, uma velha senhora que mal consegue andar, percebendo que está prestes a chover, consegue de alguma forma cobrir o estoque de trigo mantido por sua nora para secar no pátio de sua casa. Ela pensa: “Não há ninguém em casa. Este é o nosso trigo, ele ficará estragado se exposto à chuva e nosso dinheiro será desperdiçado”. No entanto, o funcionário do depósito do governo não vê a perda do governo como sua.

Assim, aqueles que não consideram a perda ou ganho dos outros e, em vez disso, apenas se concentram em sua própria conveniência, são chamados de “nīti-vādī”. Enquanto aqueles que agem por amor, sem se importar com inconvenientes que possam ter que enfrentar em benefício do objeto de sua afeição, investem toda a sua energia e são chamados de “prīti-vādī”.

Por Srila Bhakti Vijnana Bharati Gosvami Maharaja

Fonte:
https://www.visuddhacaitanyavani.com/…/07/12/Ratha-yatra-QnA

Tradução: Maha Vishnu Das

Jay Ratha -Yatra! Jay Jagannatha!!!

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