Dandavat Pranamas! Todas as glórias a Sri Sri Guru e Gauranga! Em 2022, 29 de junho, é a comemoração de Gundica Mandira Marjana, a limpeza do Templo Gundica! Em honra a este dia auspicioso, oferecemos essa aula de Srila Bhaktivedanta Narayana Gosvami Maharaja, extraída de Seu belíssimo livro “A Origem do Ratha-Yatra”.
No dia de Gundica Mandira Marjana, é realizada a limpeza do templo de Gundica, chamado Sundaracala. O templo de Jaganatha, afirma o Sri Caitanya-caritamrta, representa Dvaraka, ao passo que Sundaracala representa Vrindavana. Todas as gopis, entre elas, Lalita, Visakha e Srimati Radhika , assim como Nanda Baba, Yasoda e todos os outros Vrajavasis vivem em Vrindavana. Vasudeva, Devaki, Baladeva, Subhadra e todos ou demais dvarakavasis moram em Dvaraka. Mesmo no período em que reside em Dvaraka, Krsna sempre se lembra dos Vrajavasis: Seu pai Nanda Baba, Sua mãe Yasoda, Suas belas vacas, bezerros, amigos e, em especial, Suas amadas gopis. Às vezes, o sentimento de separação que sente dos vrajavasis faz com que fique tão angustiado, que Ele Se organiza para ir ao encontro deles em Vrndavana.
Um dia antes do festival de Ratha -yatra (o grande festival das carruagens do Senhor Jagannatha), Sri Caitanya Mahaprabhu leva todos os devotos para uma limpeza no templo, Gundica Mandira. No dia seguinte, Jaganatha vai ao Gundica Mandira acompanhado por Baladeva, Subhadra e Seus devotos. Após passarem dez dias ali, todos voltam aos seus respectivos locais de origem. Jagannatha visita o Gundica Mandira depois do templo ser limpo, e, de modo semelhante, Ele se acomodará em seu coração se você o purificar e o deixar completamente limpo.
O festival de Gundica-marjana tem sido realizado todos os anos desde a Satya-yuga. Antigamente, conforme escrito no Sri Caitanya-caritamrta, antes de Sri Caitanya Mahaprabhu começar a realizar essa limpeza, eram os servos do rei que faziam. Como limpavam o templo em troca de dinheiro, e não por devoção, isso não era muito satisfatório para Jagannatha. Portanto, por intermédio de Kasi Misra, o sacerdote do rei, Sri Caitanya Mahaprabhu comunicou-lhe o seguinte: “Quero me encarregar do serviço de limpeza do templo e redondezas”. Disse Ele a Kasi Misra, Sarvabhauma Bhattacarya e os demais: “Por favor, peçam permissão ao rei para Eu e Meus companheiros cuidarmos do serviço ao Gundica Mandira este ano. Nós mesmos vamos varrê-lo e limpá-lo, e ele não precisa nos ceder nenhum funcionário. Só pedimos algumas vassouras e cântaros”
Eles mandaram centenas de milhares de cântaros e vassouras para Caitanya Mahaprabhu e Seus companheiros. Em clima de dança e Kirtana, milhares de devotos da Bengala e da Orissa chegaram no local, trazendo cerca de quinze mrdangas e uma porção de Karatalas. Recebendo do próprio Caitanya Mahaprabhu todas as guirlandas e candana, e munidos de vassouras e cântaros, todos dirigiram-se ao Gundica Mandira cantando e dançando.
O rei ficou muito feliz! Embora fosse um devoto elevado e tivesse nome e posição de rei, ele queria conhecer Caitanya Mahaprabhu e servi-LO. Possuindo imensa riqueza e reputação, vivia rodeado por exércitos, comandantes e assim por diante. Porém, aceitando as regras da ordem de sannyasa, Caitanya Mahaprabhu jamais pensava em ter um visayi (desfrutador dos sentidos) entre Seus seguidores. Para Ele, a companhia do rei seria um incômodo, pois Ele Se viria obrigado a ouvir conversas mundanas (visayi-Katha). É natural termos medo se uma cobra se aproxima de nós, mesmo após seu veneno ter sido extraído. Da mesma forma, o devoto teme a companhia de um desfrutador dos sentidos, pois isso pode perturbar seu sadhana-bhajana. Entretanto, agimos como desfrutadores dos sentidos devido a nossa avidez por riqueza, reputação e posição de destaque.
Caitanya Mahaprabhu é o próprio Svayam Bhagavan. Apesar de não ser diferente de Jagannatha, Ele estava fazendo o papel de um devoto, razão pela qual enviou um representante para dizer ao rei: “Quero estar presente na limpeza do templo”. Em resposta, o rei disse a Kasi Misra, seu superintendente, ministro, sacerdote e mestre espiritual: “Seus devotos podem usar os utensílios e quaisquer outros apetrechos que Ele desejar.”
Sendo assim, na noite anterior ao festival, Mahaprabhu convocou os Seus associados: Svarupa Damodara, Raya Ramananda, Gadadhara Pandita, entre outros. Advaita Acarya e NItyananda Prabhu também compareceram, juntamente com milhares de gaudiya-bhaktas. Mahaprabhu lhes disse: “Cada um de vocês”, “tragam uma grande vassoura feita de fibra de coqueiro e um cântaro de barro”.
No dia seguinte , por volta das sete da manhã, ali se reuniram cerca de um milhão de devotos, da Índia e de todo o mundo. Primeiro , ofereceram guirlandas de flores e candana a Caitanya Mahaprabhu, que em seguida os distribuiu entre todos os devotos. Todos queriam prestar reverências a Caitanya Mahaprabhu, no entanto, ao invés disso, Ele tomava a iniciativa humilde de lhes prestar respeitos. Quando Nityananda Prabhu fez que ia tocar-lhe os pés, Ele se adiantou para tocar os pés de Nityananda primeiro. Não ostentava falso ego algum, pensando: “Sou guru, todos devem me respeitar. Por que eu deveria respeitar os outros?”. Na verdade, quem pensa assim não é devoto puro. Guru é aquele que respeita o próximo. Seus sintomas são:
trinad api sunicena taror apri sahisuna
amanima manadena kirtaniyah sada harih
(Siksastaka 3)
Ele é mais humilde que uma folha de grama, e mais tolerante do que uma árvore. Mesmo estando seca, a árvore jamais pede: “Água, água, água!” Se alguém lhe corta os galhos, ela não protesta: “Ai de mim! Poupe-me! Não me corte!” Ela não reage assim.
As mangueiras dão frutos muito doces, mesmo para quem atira pedras contra elas, na tentativa de derrubar as mangas. A casca, as sementes, os frutos, as folhas e a seiva das árvores sempre se doam aos outros, nunca a si mesmas. Krsna nos diz para sermos como as árvores: devemos dedicar nossas vidas ao próximo e não a nós mesmos. Acima de tudo, nossas vidas devem ser devotadas a Krsna. Quem vive somente para si mesmo, tem consciência inferior até mesmo a das árvores.
Enquanto tocavam os pés uns dos outros, os devotos e Mahaprabhu fazia um kirtana. Cada um segurando uma vassoura e um cântaro, saíram em nagara-sankirtana do templo de Jagannatha para o templo de Gundica. Muitos devotos dirigiram-se a um lago bem grande, chamado Indradyumna-sarovara, onde enchiam de água os seus cântaros, carregavam na cabeça ou entregavam os cântaros as pessoas ao longo do caminho, dizendo: “Hare Krsna!” Quando recebiam de volta os cântaros vazios, diziam outra vez: “Hare Krsna!” Dessa forma, iam e vinham com rapidez. Também os devotos incumbidos de varrer o pátio do templo cantavam: “Krsna! Krsna!” Tudo transcorria ao som do cantar dos santos nomes: “Krsna! Krsna! – não se ouvia outro som senão este! Se algum cântaro era quebrado em razão da pressa, ouvia-se “Oh Krsna, Krsna!” e logo o substituíam por um cântaro novo.
Assim, todos se ocuparam na limpeza do pátio do Gundica Mandira jogando água em todos os cantos, retirando os detritos do local antes para que a água fluísse como a corrente de um rio. Podia-se ver Mahaprabhu limpando e jogando água aqui e acolá, em cima e embaixo, até que tudo ficou tão limpo quanto o Seu próprio coração! Este é o passatempo conhecido como Gundica Mandira Marjana!
Jay Sri Jagannatha deva ki! Jay!
Jay Sri Gundica Mandira Marjana ki! Jay!!!