andavat Pranamas! Todos os anos há um festival de cinco dias por toda Vrindavana chamado Jhulana-Yatra (Festival do Balanço), a época em que as vijaya-vigrahas (deidades pequenas) de Sri Sri Radha Krsna são balançadas por milhares de Vrajavasis e outras pessoas, em seus diversos templos ou casas, em um belo balanço preso a longas cordas. Srila Narayana Gosvami Maharaja anualmente lidera este festival na Sri Kesavaji Gaudiya Matha e Sri Rupa Sanatana Gaudiya Matha, e nesse período, Ele costuma falar sobre a importância deste festival. Neste ano de 2025, a cerimônia Jhulana Yatra de Sri Sri Radha Krsna inicia-se no dia 18 de agosto, finalizando em 23 de agosto (na ocasião do aparecimento transcendental do Senhor Balarama), e o dia do divino desaparecimento de Srila Rupa Gosvami é em 19 de agosto. A seguinte aula é uma tradução de ambas as palestras em hindi, dada em Mathura, na Índia, em 8 de agosto de 2003.
Jhulana Yatra

No mês de Sravana (a estação das chuvas), as nuvens no céu começam a fazer um som de trovão, e pequenas gotículas de chuva e névoa sopram na forma de uma fina garoa em todos os lugares. A atmosfera é muito bela e agradável após o calor dos meses de verão, pois, nesta época, todos os bosques de Vrindavana começam a florescer. Muitos tipos de flores em ambos os lados do rio Yamuna, tais como beli, cameli, juli e madhavi começam a desabrochar. As abelhas se entreolham e cantam: “Radhe Radhe!” e os cucos também clamam: “Radhe Radhe!”
Todos os pavões e pavoas chamam bem alto: ‘Ke-ka, ke-ka!’ Ke significa: “Que rapaz tem a habilidade de realizar tal maravilhoso feito? O maan de Srimati Radhika (Seu humor zangado de ciúme transcendental amoroso), bem como Sua timidez e paciência, são como uma enorme montanha imóvel. Que tipo de rapaz ‘Ke’ pode reduzir tal montanha a pó, de modo que não sobre nada? Esta pessoa é Sri Krsna! E ‘Ka’ significa: “Que moça pode realizar algo tão maravilhoso? Há um poderoso elefante louco chamado Sri Krsna que ninguém pode controlar! Uma pessoa, no entanto, pelo aguilhão de Seu maan, pode pegar este elefante, trazê-Lo sob Seu controle, e prendê-Lo nas correntes do Seu prema (amor puro)! Quem é essa pessoa? Srimati Radhika”. Desta forma, pavões e pavoas glorificam Srimati Radharani e Krsna.
Na época de Sravana, a estação chuvosa, tudo se torna verde! No verão tudo estava seco, mas agora a chuva veio e toda a vegetação voltou à vida novamente. Todas as jovens noivas são levadas nesta época para a casa dos seus sogros por seus irmãos, e depois elas retornam para a casa dos seus pais.
Srimati Radhika ainda estava na casa de seus sogros em Javat, no entanto, Seu irmão Sridama ainda não tinha chegado. Muito tempo havia se passado quando finalmente ele chegou lá no dia de lua cheia, com algumas roupas e ornamentos para pacificar a sogra de Srimati Radhika, Jatila.
Vendo seu irmão, Srimati Radhika chorou: “Oh Meu querido irmão, por que você veio tão tarde? Restam apenas poucos dias deste mês de Sravana. Por que você veio tão tarde? Você esqueceu de mim?”
Srimati Radhika então deixou Javat muito feliz e foi para Varsana (seu local de nascimento), Vrsabhanupura, com seu irmão. Lá, Ela se reuniu com todas as suas sakhis, amigas íntimas, que também tinham retornado para a casa de suas mães naquele momento. Foi um encontro muito lindo, e elas se reuniram no local onde brincavam na sua infância.
As sakhis haviam feito um Jhulana (balanço) para Srimati Radhika. Elas sempre fazem o balanço em uma árvore kadamba e não em uma árvore tamal. O significado da árvore kadamba é que, esta carrega a compleição de Srimati Radhika e a árvore tamal, a compleição de Sri Krsna. A árvore tamal não é muito poderosa, mas a árvore kadamba é muito forte e bela. Isso indica a superioridade de Srimati Radhika – Ela pode controlar o Senhor Krsna através de Seu amor!
jhula jhule radha damodara vrndavana men
kaisi cchayi hariyali ali kunjan men

“Radha-Damodara estão se balançando em um maravilhoso balanço em Vrndavana. Oh amigo, como é brilhante o verde deste belo kunja!”
(Jhula Jhule Radha Damodara, verso 1)
Nós cantamos este kirtana na hora de balançar Sri Sri Radha e Krsna. Ele descreve como Krsna está esperando de mãos postas no balanço pela chegada de Sua amada. Srimati Radhika está em maan, e Suas sakhis tentam convencê-la a vir, dizendo: “Por favor, abandone este humor zangado e venha imediatamente encontrar o seu amado Krsna. Ele está esperando por você.”
Desta forma, estamos observando Jhulana-yatra e lembrando dos doces passatempos de Sri Sri Radha e Krsna.
(Quando o discurso de Srila Gurudeva foi concluído, mais de 200 devotos presentes no templo Sri Rupa-Sanatana Mandir, acompanharam-no na caminhada de cinco minutos até o templo Sri Gopinatha Gaudiya Matha, onde todos realizaram a cerimônia do balanço para Sri Sri Radha Gopinatha e cantaram o mesmo kirtana. Logo após, os devotos reunidos sentaram-se no pátio do templo para ouvir Srila Gurudeva falar novamente.)
O Desaparecimento de Srila Rupa Gosvami
Amanhã é o dia do desaparecimento de Srila Rupa Gosvami. Mesmo que existam muitos grandes acaryas, atribui-se a Srila Rupa Gosvami a honra de ser a pessoa que realizou o mano-bhistam, o desejo íntimo do coração de Sri Krsna na forma de Caitanya Mahaprabhu. Quando Sriman Mahaprabhu veio a aldeia de Ramakeli-grama, Ele se encontrou com Srila Rupa Gosvami e Srila Sanatana Gosvami e lhes disse: “Deixem suas casas e fiquem comigo.” Depois de um curto período de tempo, eles deixaram suas casas, e Sri Caitanya Mahaprabhu veio de Vrndavana e se encontrou com Srila Rupa Gosvamipada em Prayaga, local da confluência dos rios Yamuna e Ganges. Mahaprabhu disse a ele:
parapara-sunya gabhira bhakti-rasa-sindhu
tomaya cakhaite tara kahi eka bindu
“O oceano das doçuras transcendentais do serviço devocional é tão vasto que ninguém pode imaginar sua imensidão. No entanto, para ajudá-los a saborear tal maravilha, estou descrevendo apenas uma gota.
(Sri Caitanya-caritamrta, Madhya-lila 19.137)”
O Senhor Caitanya deu uma gota do oceano de rasa (doçura transcendental) a Srila Rupa Gosvami, e esta gota foi suficiente para inundar milhões e milhões de universos! Mais tarde, ele se encontrou com Srila Sanatana Gosvami em Varanasi.
Depois de algum tempo, Srila Rupa Gosvami e Srila Sanatana Gosvami vieram para Vrindavana e começaram a realizar bhajana, ouvir, cantar, e lembrar sobre Krsna. Rupa Gosvami pensou: “A fim de realizar o desejo mais íntimo do coração de Sri Caitanya Mahaprabhu, eu escreverei uma peça de teatro. Nesta peça, explicarei a beleza dos passatempos nos encontros de Srimati Radhika e Sri Krsna em Vrndavana, e também Seus passatempos em separação, na ocasião em que o Senhor Krsna deixa Vrndavana e vai para Mathura e Dvaraka. Explicarei como que, por meio de Suas expansões, Radhika e todas as sakhis, de alguma forma foram a Dvaraka e tornaram-se as 16.108 rainhas do Senhor Krsna.”
Ele pretendia escrever sobre isso, mas enquanto estava viajando em direção a Jagannatha Puri, chegou à vila de Satyabhama-pura. Lá, Srimati Satyabhama-devi, a rainha principal do Senhor Krsna, apareceu-lhe em sonho e disse: “Por favor, não faça apenas uma peça, mas divida-a em duas partes.”
Então, quando Srila Rupa Gosvami finalmente chegou em Jagannatha Puri e se encontrou com Sri Caitanya Mahaprabhu, o Senhor confirmou o que havia ouvido de Srimati Satyabhama em seu sonho. Sriman Mahaprabhu lhe disse: “Não leve o Senhor Krsna para fora de Vrindavana.”
krsno ‘nyo yadu-sambhuto yah purnah so ‘sty atah parah
vrndavanam parityajya sa kvacin naiva gacchati
“Krsna conhecido como Yadu-kumara é Vasudeva Krsna. Ele é diferente do Krsna que é filho de Nanda Maharaja. Yadu-kumara Krsna manifesta Seus passatempos nas cidades de Mathura e Dvaraka, mas o Krsna filho de Nanda Maharaja, nunca, em tempo algum deixa Vrindavana.”
(Caitanya-caritamrta, Antya-lila 1.67)
“Krsna nunca deixa Vrndavana. Ele não coloca nem mesmo um pé fora de Vrindavana.”
Srila Rupa Gosvami então dividiu sua peça de teatro em duas partes. A primeira parte é chamada Vidagdha-madhava, os passatempos de Krsna em Vrindavana; e na segunda parte, chamada Lalita-Madhava, Ele vai para Dvaraka e todas as gopis de Vrindavana se encontram com Ele na forma de rainhas de Dvaraka.
Por que Srila Rupa Gosvami fez isso? Este é um siddhanta (verdade filosófica conclusiva) muito profundo. Srila Kavi Karnapura, um grande devoto, compôs o Sri Ananda Vrindavana Campu. Neste livro, ele descreveu os passatempos do Senhor Krsna, desde Seu nascimento até a rasa-lila e os passatempos do balanço do Casal Divino, e parou por aí. Ele não quis ir adiante e não descreveu sobre Krsna indo à Mathura ou Dvaraka, porque este sentimento de separação é muito duro de tolerar para os devotos puros. Ele pensava: “Minha mestra Srimati Radhika não poderá tolerar tal separação, por isso não escreverei sobre isso.”

No entanto, Srila Rupa Gosvami escreveu sobre ambos os humores: união e separação. A razão para tal é que, este humor de separação é um sentimento de profundo êxtase transcendental. No momento do encontro, embora Radharani e Krsna estejam juntos, algo pode ser esquecido ou perdido no coração. Por outro lado, no momento da separação, existe um encontro em novas e revigorantes formas no coração; e não só dentro, mas às vezes externamente, há ‘spurtis’ (visões temporárias), em que o amado está realmente presente.
Conhecendo todas estas verdades transcendentais muito profundas e desejando consagrar o desejo de Sri Caitanya Mahaprabhu pelo mundo afora, Srila Rupa Gosvami também glorificou muito belamente o humor de separação. Embora este humor seja muito elevado e tenha muitas características transcendentais que não acontecem no momento do encontro, ainda assim, não é nossa meta de vida.
Nenhum Gaudiya Vaisnava quer ver Sri Sri Radha e Krsna eternamente separados. Que tipo de pessoa desejaria isso? Nenhum Vrajavasi quer isso. No entanto, há um espaço para este sentimento de separação, e Srila Rupa Gosvami explica isso em seu livro, Ujjvala Nilamani:
na vina vipralambha sambhoga pusti masnute
“Sem o humor de separação, o humor do encontro não será nutrido e não crescerá a estágios mais elevados. Os passatempos de separação são muito importantes, porque eles desempenham o papel de nutrir a doçura do encontro. “
Quando Srila Rupa Gosvami estava em Puri com Sri Caitanya Mahaprabhu, o Senhor estava dançando no festival de Ratha-Yatra e proferindo um verso de um livro de poesia mundana chamado Sahitya-darpana:
yah kaumara-harah sa eva hi varas ta eva caitra-ksapas
te conmilita-malati-surabhayah praudhah kadambanilah
sa caivasmi tathapi tatra surata-vyapara-lila-vidhau
reva-rodhasi vetasi-taru-tale cetah samutkanthate
“Aquela mesma personalidade que roubou meu coração durante a minha juventude, é agora novamente meu mestre. Eis as mesmas noites de luar do mês de Caitra. Sinto a mesma fragrância das flores malati, e as mesmas brisas doces sopram da floresta de árvores kadamba. Em nosso relacionamento íntimo, eu também sou a mesma amante, mas minha mente não está feliz aqui. Anseio voltar para aquele lugar às margens do rio Reva, sob a árvore Vetasi. Esse é o meu mais profundo desejo”.
(Sri Caitanya-caritamrta, Antya-lila 1.78)
Ninguém era capaz de entender por que Sri Caitanya Mahaprabhu estava proferindo este verso e em que humor Ele estava absorto. Entretanto, havia um rapaz lá, chamado Rupa, que mais tarde tornou-se este mesmo Rupa Gosvami. Ao ouvir este verso de Mahaprabhu, outro verso apareceu em seu próprio coração, e ele o escreveu:
priyah so ‘yam krsnah saha-cari kuru-ksetra-militas
tathaham sa radha tad idam ubhayoh sangama-sukham
tathapy antah-khelan-madhura-murali-pancama-juse
mano me kalindi-pulina-vipinaya sprhayati

Este é um verso falado por Srimati Radharani:
“Minha cara amiga, agora eu encontrei meu velho e querido amigo Krsna neste campo de Kurukshetra. Eu sou a mesma Radharani, e agora estamos juntos novamente. É muito agradável, mas ainda assim, desejo voltar às margens do rio Yamuna, e permanecer sob as árvores das florestas de lá. Quero ouvir o som de sua doce flauta vibrando a quinta nota, nessa floresta de Vrindavana.”
(Sri Caitanya-caritamrta Madhya-lila 1.76 ) “
Neste verso Srila Rupa Gosvami elucidou o significado do sentimento íntimo de Sri Caitanya Mahaprabhu e, assim, revelou ao mundo a importância de parakiya-rasa, o humor de amantes entre Krsna e as gopis. Srila Rupa Gosvami foi a pessoa que estabeleceu neste mundo o mais íntimo desejo do coração de Sri Caitanya Mahaprabhu.
Depois que Sriman Mahaprabhu desapareceu deste mundo, a discussão sobre parakiya-rasa não era proeminente. De acordo com as escrituras, rasa mundana, amor deste mundo entre aqueles que são solteiros, é algo imoral, ilícito e pecaminoso. No entanto, além de manifestar as infinitas variedades e maravilhas de vipralambha e sambhoga (passatempos de separação e encontro de Radha e Krsna), Srila Rupa Gosvami também estabeleceu a superioridade de parakiya-rasa. Usando evidências de muitos sastras diferentes, ele provou que o Senhor Sri Krsna não é um nayaka (amante) comum e Radhika não é uma nayika (amada) comum. Em outras palavras, quando ocorre um encontro entre um amante mundano e sua amada no humor de amantes (parakya), isso é muito pecaminoso, mas Sri Krsna é uma personalidade transcendental, o próprio Deus, e tudo é possível para Ele. Portanto, se Ele é o objeto de parakiya-bhava, não há nenhuma falha ou defeito nisso. Ao contrário, esta é a mais elevada e supremamente pura manifestação de madhurya-prema, o humor romântico.
Srila Rupa Gosvami estabeleceu o fato de que o próprio Senhor Krsna veio a este mundo para saborear essas doçuras, e, como Sri Caitanya Mahaprabu, Krsna experimentou parakiya-bhakti-rasa, que reside dentro do coração de Srimati Radhika:
anarpita-carim cirat karunayavatirnah kalau
samarpayitum unnatojjvala-rasam sva-bhakti-sriyam
harih purata-sundara-dyuti-kadamba-sandipitah
sada hrdaya-kandare sphuratu vah saci-nandanah
“Que o Senhor Supremo, que é conhecido como o filho de Srimati Saci-devi, esteja transcendentalmente situado nos recônditos mais íntimos do seu coração. Resplandecente como o brilho do ouro derretido, Ele apareceu na era de kali por Sua misericórdia imotivada, para conceder o que nenhuma outra encarnação jamais ofereceu antes: a doçura mais sublime e radiante do serviço devocional, a doçura do amor conjugal.”
(Sri Caitanya-caritamrta, Adi lila 1.4)
sri-caitanya-mano-‘bhistam
sthapitam yena bhu-tale
svayam rupah kada mahyam
dadati sva-padantikam
“Eu nasci na mais escura ignorância, e meu mestre espiritual abriu meus olhos com o archote do conhecimento. Ofereço minhas respeitosas reverências a ele. Quando Srila Rupa Gosvami, que estabeleceu neste mundo material a missão de realizar o desejo do Senhor Caitanya, me dará abrigo aos Seus pés de lótus?”
(Oração de Srila Narottama dasa Thakura)
Estas deliberações e conclusões filosóficas são extremamente profundas, e muito difíceis de compreender. Portanto, é essencial que se tenha a orientação de um guru auto realizado e dos devotos puros, e dar todo seu tempo e energia, trabalhar muito duro e entusiasticamente a serviço do Guru, cantando os Santos Nomes de Krsna e praticando bhajana. É preciso também fazer um grande esforço para compreender e realizar a razão pela qual Srila Rupa Gosvami apareceu neste mundo e por que ele escreveu tantos livros importantes como: Sri Bhakti-rasamrta-sindhu, Sri Ujjvala-nilamani, Sri Vidagdha-madhava e Sri Lalita- madhava. A não ser que se abrigue aos pés de lótus de Sri Guru e faça um grande esforço para compreender estes tópicos, após algum tempo, tal pessoa será levada por maya (energia ilusória) e se envolverá em atividades mundanas. Este é um ponto muito importante.

Srila Gurudeva anunciou o final da aula e pediu que todos os devotos o encontrassem no Sri Rupa-Sanatana Mandir na manhã seguinte, para observar o dia do desaparecimento de Srila Rupa Gosvami, às 6hs. Eles seguiram juntos para o Sri Radha Damodara Mandir, após para o Samadhi e Bhajana Kutir de Srila Rupa Gosvami, e lá eles ofereceram mais kirtana e glorificações.
Retirado do site Pure Bhakti
Jay Jhulana Yatra ki! Jay!!!
Jay Srila Rupa Gosvami ki! Jay!!!
Nitai Gaura Premanande! Haribol!!!