Dandavat pranamas! Nesta noite de Purnima, dia 26 de abril de 2021, é o dia mais auspicioso em que celebramos a maravilhosa Krsna Vasanta-rasa, a dança das doçuras transcendentais de Sri Krsna! Todas as glórias a Radha Krsna!
Radhika não foi apaziguada, apesar de internamente desejar encontrar-se com Krsna. Ele já havia percebido que não funcionaria se enviasse um mensageiro. Então, o que fez em seguida? Ele mesmo se expandiu em Syamali Sakhi. Assumindo uma forma maravilhosa, Ela se aproximou das gopis com uma cesta de flores nas mãos e chamou com uma voz muito doce:
-Por prestar serviço a alguém, mitiga-se toda a aflição e fadiga. Ao fazer isso, elas ficarão muito felizes.
Neste momento, Radhika e as sakhis estavam sentindo infelicidade e cansaço. Ao ver Syamali, na verdade Radhika não reconheceu esta sakhi como sendo o próprio Krsna. Lalita, Visakha e as outras gopis também não O reconheceram. Quando Krsna assume outra forma, quem é capaz de reconhcê-Lo? Até mesmo quando um ator comum troca as suas roupas, não podemos reconhece-Lo. Com essa finalidade, Ele empregou a sua Yogamaya (potência ilusória) e, portanto, ninguém pode reconhece-Lo.
Syamali satisfez Radhika dando-lhe uma guirlanda de flores que emanava uma fragrância especial. Radhika pensou:
-De onde vem esta fragrância? Que aroma é esse? Sabendo que estava relacionado a Krsna, Ela ficou muito satisfeita. Syamali começou a dizer para Radhika:
-Neste mundo, não há ninguém tão bondoso, que tenha tantas qualidades maravilhosas, que demonstre respeito por todos, que seja tão grato e que seja perito nas sessenta e quatro artes como Krsna é. Não só em Vrindavana, mas em toda brahmanda não há ninguém igual a Ele. E você? Você tem tantas qualidades boas e é tão bela, que não deve cometer nenhuma ofensa contra Ele. Louvando Krsna desta maneira e elogiando Radhika, Syamali provou que Krsna não havia cometido nenhuma falta. Radhika foi acalmada completamente e por fim, para a sua maior felicidade, a arma final estava na Sua mão. Retornando a sua forma original, Ele disse a Radhika:
-Estou sentindo o fogo da separação e apenas o toque dos Seus pés pode me refrescar. Portanto, seja misericordiosa e decore a Minha cabeça com os Seus pés, pois ao fazer isso, você também ficará feliz.
Estando satisfeita, Radhika disse:
-Agora, faça-Me um favor. Minhas tornozeleiras de flores estão quebradas. Por favor, conserte-as. E a trança do Meu cabelo está desfeita. Por favor, refaça-a.
Vendo que Ele cumpriu todas as Suas ordens, Ela pensou:
-Ele obedeceu muito bem minhas instruções. Ele nunca ficará com outra gopi. Venha, vamos juntos dançar a rasa.
Nesta ocasião, a rasa-lila foi realizada no Candra-sarovara e é assim que a Vasanta-rasa é descrita no Gita-Govinda.
Apesar de não termos qualificação para nos dedicarmos a sravana e kirtana deste tema, tentamos resumidamente descrever esta rasa e os sentimentos amorosos que surgem com ela. Ao saboreá-la repetidamente, vejam em que condição Mahaprabhu ficou! Foi algo maravilhoso! Svarupa Damodara e Raya Ramananda costumavam descrevê-la para Ele. Sou apenas uma pessoa comum, cheia de anarthas (hábitos indesejáveis), mas onde quer que Svarupa Damodara e Raya Ramananda estejam descrevendo isso, o próprio Krsna, pleno de radha-bhava (sentimentos transcendentais de amor por Radha), estará lá como ouvinte na forma de Sri Caitanya Mahaprabhu e Ele receberá muita ananda (felicidade) por ouvi-la.
Assim, em silêncio, nos lembraremos desta Vasanta-rasa e, um dia, em nossos corações, surgirá uma desejo espiritual intenso e genuíno e seremos capazes de servir a esta rasa diretamente.
“Agora, Sri Jayadeva Gosvami começará a descrever Vasanta-rasa: ‘Meu coração está palpitando, pois desejo escrever tal coisa que nessa vida nunca escrevi antes, e que não é mencionado em lugar algum: que Krsna cairá aos pés de Radhika. Conhecemos isso bem, mas Krsna é o Controlador Supremo, a causa de todas as causas, e o bhagavat-avatara original. Ele se prostra aos pés de Sua própria potência, que está na forma de Sua dasi (serva). Eu não sei se isso é apropriado, mas meu coração está dizendo que sem Krsna acomodando Sua cabeça nos pés de Radha, ela não ficará satisfeita! Não sei se sou capaz de escrever isso.’
Jayadeva prossegue descrevendo que, nas planícies de Giriraja Govardhana em Candra-sarovara, Candra (a lua) permaneceu por toda uma noite de Brahma. Qual é a duração da noite de Brahma? Milhões de yugas. Para testemunhar a rasa-lila (dança das doçuras transcendentais), ela permaneceu ali, por isso este local é chamado Candra-sarovara.
Na estação da primavera, surgem todas as frutas e flores em Vrndavana. O cuco começa seu som “ku-ku”, o pavão começa sua doce melodia “ke-kah”, e é como se os pombos tocassem búzios emitindo um lindo som “ko-ko”. Todos estão emitindo seus próprios sons característicos, que coletivamente soa como se estivessem tocando em um sahanai. Desta forma, todos os pássaros e animais tornam-se felizes, e não há ninguém que não esteja dançando. Formando grupos, Krsna e as gopis começam a dançar. Todas as moças solteiras estão presentes ali, e para isso, elas esperaram por um ano. Para dançar com Krsna, para encontrarem-se com Krsna – elas passam o ano inteiro ardendo no fogo da separação em seus corações. Não para si mesmas, não por luxúria, mas para aplacar essa dor de separação.
Para realmente se tornar imerso na rasa de Krsna, deve-se adentrar nesta poesia composta por Jayadeva Gosvami. Portanto, Caitanya Mahaprabhu, com seu coração pleno de rasa, à noite pedia a Svarupa Damodara: “Por favor, recite o Gita-govinda para Mim.” Ao ouvi-lo, imediatamente Seu prazer aumentava. Svarupa Damodara lia exatamente o que Caitanya Mahaprabhu desejava ouvir. Às vezes, era a poesia de Jayadeva, outras vezes a de Candidasa, às vezes de Vidyapati, e outras vezes, lia versos dos cinco capítulos que descrevem a rasa no Srimad-Bhagavatam.”
Sri Srimad Bhaktivedanta Narayana Gosvami Maharaja
Trechos do livro: O Néctar de Govinda-lila, Capítulo 4.