Ele foi o Guru de Bhaktisiddhanta Sarasvati Gosvami, o fundador das Caitanya Mathas e Gaudiya Mathas, e este foi seu único discípulo. A vida deste santo Vaisnava foi um exemplo de total humildade e renúncia, os verdadeiros atributos de um Vaisnava! Gaura kisora nunca aceitava qualquer objeto material de ninguém. Como roupa, ele usava tangas descartadas pelos defuntos deixadas às margens do rio Ganges. Como alimento, ele coletava arroz de esmolas, mergulhando-o na água do rio, preparando-o com sal e pimenta. Ele nunca pedia favores a ninguém e vivia uma vida totalmente isolada, desprovida de todos os bens.
Existe pouquíssima informação disponível sobre o passado da vida de Gaura Kisora, exceto que Ele nasceu em uma família de Vaisyas, na aldeia de Bagayana, perto de Tepakhola, às margens do rio Padma. Os nomes de seus pais são desconhecidos, e Ele recebeu deles o nome de Vamsi Das., tendo nascido em algum momento do século XIX. Como chefe de família, ele estava envolvido com o comércio agrícola e com essa renda, cuidava de sua esposa e família honestamente. Após o falecimento de sua esposa, Gaura Kisora renunciou à sua casa e foi para Vrindavana, onde ele foi iniciado em Vairagi Vesha por Bhagavata Dasa Babaji, um dos principais discípulos de Jagannatha Dasa Babaji.
Gaura Kisora vivia de madhukari (esmolas) e dormia debaixo de uma árvore. Ele se prostrava, oferecendo suas humildes reverências aos residentes de Vraja, considerando-os como encarnações do Senhor Krisna. Ele oferecia suas reverências até mesmo às flores, árvores e à terra ao seu redor. Ele passou cerca de 30 anos em Vrajamandala servindo as deidades. Em 1893, quando o Yoga Pitha, local de aparecimento de Sri Caitanya Mahaprabhu foi inaugurado, Ele partiu para Navadvipa sob as ordens de Srila Jagannatha Dasa Babaji, onde permaneceu por toda sua vida.
Durante a sua permanência em Navadvipa, Gaura Kisora sofreu várias transformações em Seus humores espirituais. Às vezes, Ele dançava às margens do Ganges cantando: “Gaura, Gaura”, enquanto em outros momentos Ele caia ao chão em estado inconsciente. Ele perambulava alegremente ao longo dos pomares localizados à margem do Ganges, considerando-os divinos locais de diversão de Radha-Govinda. Sua única roupa era uma tira de pano em volta da cintura e frequentemente, estava totalmente nu. Ele cantava japa em contas de colar ou às vezes em pano trançado, usando-os como substitutos da japa (terço de contas de tulasi). E costumaval ir à Godrumadvipa ouvir Bhaktivinoda Thakura recitar a escritura sagrada Srimad Bhagavatam.
Todas as pessoas virtuosas aguardavam ansiosamente para prestar seus serviços a Gaura Kisora. No entanto, Ele raramente permitia a alguém a oportunidade de servi-lo. Certa vez, o Manindrachandra Nandi, o Maharaja de Kasimbazar, enviou um mensageiro distinto para acompanhar Gaura Kisora ao seu antigo palácio. Gaura Kisora, no entanto, não aceitou o convite do Maharaja dizendo que se visitasse o palácio, Ele poderia se sentir atraído por tal riqueza, o que poderia resultar em uma relação constrangedora entre os dois. Assim, Gaura Kisora sugeriu que, em vez de visitar seu palácio, o Maharaja poderia se libertar completamente dos grilhões da riqueza, doando tudo o que possuía para seus parentes e, em seguida, viver com Gaura Kisora em um cabana construída especialmente para ambos praticarem Hari- bhajana em paz.
Gaura Kisora era muito seletivo quanto a aceitar convites de refeições, sabendo que isso poderia afetar severamente sua vida espiritual. Certa vez, um devoto chamado Harenbabu compartilhou prasada, oferecendo-a em um festival realizado em um bhajana- kutira em Navadvipa. Por conta disso, Gaura Kisora parou de se comunicar com Haren por três dias. No quarto dia Gaura Kisora explicou que a prasada do festival havia sido financiada por uma mulher de profissão questionável.
Em uma outra ocasião, na véspera do dia do desaparecimento de Sanatana Gosvami, Gaura Kisora decidiu celebrar a ocasião. O devoto que o assistia perguntou quem forneceria o material para a celebração. Gaura Kisora respondeu: “Lembre-se de não falar com ninguém sobre isso. Nós devemos esquecer a refeição e continuar ao longo de todo tempo cantando o Santo Nome. Esta poderia ser a festa típica para aqueles de nós que aderiram ao voto de pobreza.”
Narendra Kumar Sen, um residente de Agartala (Tripura), se aproximou de Gaura Kisora em determinada situação para aprender sobre guru-pranali ou siddha- pranali. Gaura Kisora lhe disse: “O Senhor Supremo não pode ser realizado através de conhecimento mundano. Somente através do cantar do Santo Nome pode a verdadeira natureza do Senhor ser revelada. Assim como o Senhor se revela a partir das letras que compõem o Nama (nome), o devoto começa gradualmente a compreender sua própria natureza e se familiarizar com o seva (serviço).“
Havia um médico que disse a Gaura Kisora que pretendia se mudar para Navadvipa e ocupar-se em práticas de caridade. Gaura Kisora aconselhou o médico que, se ele realmente desejava viver em Navadvipa então ele deveria desistir do plano de praticar caridade, pois isso apenas incentivaria as pessoas ocupadas em atividades materiais a guardar dinheiro. Aqueles que praticam sinceramente Hari- bhajana nunca devem se distrair com atividades para o bem-estar material, que apenas causam o aprisionamento.
Um jovem candidato a aprendiz, vestindo uma kaupina, ficou com Gaura Kisora por alguns dias. Após algum tempo ele providenciou, através do empregado de uma agência, cuja dona era uma mulher, obter cinco kathas de terra provenientes de doação vinda de tal fonte. Quando Gaura Kisora ouviu falar nisso, ele ficou extremamente irritado: “Navadvipa- dhama está além deste mundo material. Como um proprietário de terras mundano se atreve a manter terras aqui e até mesmo pensar que ele pode doar cinco kathas? Um simples grão de areia da transcendental Navadvipa é mais valioso do que todas as pedras preciosas deste mundo juntas! Além disso, quão avançado poderia ser este jovem devoto vestido de kaupina, se ele se atreve a coletar tanta terra, ao invés de coletar méritos para seu bhajana? “
Em certa ocasião, um devoto ofereceu alguns doces para o Senhor Gauranga e depois levou a oferenda a Gaura Kisora, insitando-o a desfrutar dela. Gaura Kisora disse ao devoto: “Aqueles que não são vegetarianos, os que cometem adultério, ou oferecem comida ao Senhor Gauranga com certa intenção maliciosa, suas oferendas nunca chegarão ao Senhor Gauranga e nunca serão santificadas como Prasada.”
Gaura Kisora regularmente esmolava arroz, depois Ele cozinhava, oferecia, e honrava Prasada. Ele nunca tocava qualquer alimento oferecido por outra pessoa. Certa vez, durante a estação das chuvas, Gaura Kisora permaneceu em um local de parada, em Phulia Navadvipa. Alguma Prasada foi deixada em um recipiente para que Ele honrasse mais tarde. Enquanto isso, uma cobra passou pelo recipiente e uma senhora percebeu isso. Quando Gaura Kisora sentou-se para tomar Prasada, a senhora apareceu e lhe informou sobre o ocorrido. Gaura Kisora, no entanto, declarou firmemente que não tocaria a Prasada até que a mulher saísse. Depois que a senhora saiu, Gaura Kisora disse: “Veja só como maya funciona! Assumindo a forma da compaixão, maya tenta agredir sua meta lentamente. Maya pode assumir inúmeras formas. Ela sempre impede um ser mortal de praticar Hari- bhajana.”
Giribabu e sua esposa imploraram a Gaura Kisora para que Ele ficasse na casa deles em Navadvipa. Gaura Kisora, movido pela devoção sincera, finalmente concordou sob a condição de que eleviveria apenas no banheiro, onde ele executaria Hari- bhajana. Giribabu tentou convencê-lo a mudar de idéia, mas Gaura Kisora manteve-se firme. Contrariado, Giribabu providenciou ter o banheiro cuidadosamente limpo, e Gaura Kisora usava-o para Hari- Bhajana. A alma realizada pode praticar Hari- bhajana em qualquer lugar, de forma despreocupada, e onde quer que ele resida, o local se torna Vaikuntha.
Gaura Kisora era uma alma altamente avançada espiritualmente. Ele nunca permitia práticas enganosas ou qualquer discussão que não fosse da competência dos livros sagrados. Um dia, quando um devoto questionou Gaura Kisora sobre um recitador famoso do Srimad Bhagavatam que tinha o hábito de cantar “Gaura, Gaura”, Gaura Kisora comentou: “Ele não fala Gaura, Gaura “. Ao contrário, o que ele intenciona dizer é: “Dinheiro, dinheiro!”. Aqueles que recitam o Srimad Bhagavatam em troca de pagamento, não têm o direito de cantar o nome do Senhor Supremo.”
Gaura Kisora nunca discursava abertamente, e ainda assim seu caráter imaculado chamava a atenção de todos. Após um encontro com Gaura Kisora, mesmo um materialista convicto ficava inclinado a praticar Hari- bhajana.
Em novembro de 1915, em um dia de Ekadasi, Gaura Kisora dasa Babaji deu seu último suspiro. O próprio Bhaktisiddhanta Sarasvati providenciou o enterro dos restos mortais de seu reverenciado guru.
Jay Srila Gaura Kisora Dasa Babaji Maharaja ki! Jay!